Origens Históricas
São Bartolomeu dos Galegos
É a antiga freguesia de São Bartolomeu dos Galegos a segunda mais antiga do concelho da Lourinhã, logo a seguir à da sede do concelho.
Toda a área pertencente à freguesia foi habitada desde tempos imemoriais, remontando ao neolítico os mais antigos testemunhos aqui encontrados e que consistem em quatro grutas que serviram de necrópole, duas situadas junto à estrada que liga São Bartolomeu dos Galegos ao Reguengo Grande, uma de cada lado da estrada e frente uma à outra, a terceira conhecida por Lapa do Reguengo Pequeno é situada junto desta povoação. Estas grutas foram classificadas, dada a sua importância arqueológica, como Imóveis de Interesse Público pelos Decretos Nºs.30762, de 26 de Setembro de 1940 e 32 973, de 18 de Agosto de 1943.
Próximo à Feteira, em Outubro de 1981, aquando das obras num aviário, foi descoberta uma outra gruta, explorada pelo arqueólogo João Zilhão, que a situa entre meados do 5º e meados do 4º milénios A.C., que serviu de necrópole e onde foram encontrados além de ossos humanos e fragmentos em grande número, algumas laminas em sílex, machados polidos em anfibolite, uma enxó polida em xisto, pontas de seta e outros artefactos de pedra e osso, além de inúmeros fragmentos de cerâmica.
Dez anos após esta descoberta, mais precisamente em 2 de Setembro de 1991, João Paulo Subtil e Gonçalo Gregório, espeleólogos amadores, durante uma ação de prospeção no planalto da Cesareda e a poucos metros da gruta atrás referida, encontraram uma outra, que logo se aperceberam poder fazer parte da primeira.
Comunicada esta descoberta às entidades competentes, logo nos anos seguintes iniciaram os preparativos para a sua exploração, que se iniciou em Julho de 1995 por uma equipa de arqueólogas da I.P.A.A.R., confirmando-se ser um local de sepultura coletiva neolítica, tendo ali sido encontrados um vasto espólio antropológico constituído por inúmeros ossos humanos, bem como grande quantidade de artefactos líticos, constituídos sobretudo por pontas de seta e variada cerâmica.
Toda esta região foi sucessivamente habitada por Celtas, Romanos, Visigodos e Mouros, que deixaram os seus vestígios indeléveis na sua população.
Após a reconquista a região deveria estar escassamente povoada e fazia parte do termo da vila de Óbidos pertencendo à jurisdição da Paróquia de Santa Maria daquela vila.
Após a pacificação desta parte da Estremadura, depois das conquistas de Torres Vedras e Lisboa, e após a constituição dos reguengos que se situavam nesta ponta do termo de Óbidos, foram os casebres dispersos se transformando em povoações, a mais importante das quais a que se formou junto à capela de São Bartolomeu e que tomou nome deste apóstolo.
Era e ainda é rica toda a área da primitiva freguesia em pedreiras calcárias que logo passaram a ser exploradas, conjuntamente com o amanho da terra, trazendo para estas paragens novas gentes, nomeadamente do Norte do país e da Galiza.
Todas estas povoações, nos primeiros duzentos anos da sua existência vêem aumentada a sua população e prosperidade, pelo que, talvez por finais do Século XIV ou já no Século seguinte, se separam de Santa Maria de Óbidos, formando uma nova Paróquia, com sede na povoação de São Bartolomeu e na Igreja dedicada àquele Santo, mas sob a denominação de São Lourenço dos Galegos.
O desenvolvimento das povoações que formam a nova Paróquia continua nos séculos seguintes, nomeadamente a partir do reinado de D.João I, Rei que concede aos reguengueiros grandes mercês e benefícios, de tal modo que em 1524 a povoação do Reguengo Grande se separa da freguesia de São Lourenço, passando a constituir a Paróquia de São Domingos. Em 1594 é a vez da emancipação da povoação do Moledo, que se torna Paróquia sob a invocação do Divino Espírito Santo.
Também a povoação de São Bartolomeu se desenvolve e consequência desse desenvolvimento é a instituição da Confraria de São Bartolomeu, em data que se ignora, mas já existente em 5 de Abril de 1645, data da uma doação de uma terra, depois chamada da Confraria Velha, que fora feita por Álvaro Vaz.
Aquando das obras da construção da capela mortuária, no adro da Igreja de São Bartolomeu, levadas a efeito por volta de 1995, foram encontradas, inteiras, três cabeceiras medievais e grande número de fragmentos de outras, estas deitadas fora, por entenderem os trabalhadores da obra, não terem qualquer valor.
Estas cabeceiras medievais que devem datar dos fins do Século XII ou princípios do Século XIII, têm esculpidas cruzes páteas, uma cruz grega e um pentagrama.
A presença das cabeceiras é sinal de que existia já um núcleo populacional de um estrato superior ao dos simples reguengueiros e trabalhadores da terra, núcleo que poderia ter origem em colónia estrangeira e ser constituída por mestres canteiros, profissão que perdurou em São Bartolomeu através dos séculos até aos nossos dias.
CIPRIANO, Rui Marques – “As Lendas e a História” 2002
Moledo
O historiador Pinho Leal no seu livro Portugal Antigo e Moderno, editado em 1874, refere a existência de um palácio ou paço, existente junto à povoação do Moledo e que tinha sido primitivamente um templo Fenício ou Cartaginês, uma vez que ali se encontraram cravados nas pedras caracteres da escrita Fenícia, pressupondo que aqueles povos aqui se fixaram ou que no local possuíam entrepostos comerciais. O mesmo autor escreve ainda que os Romanos ocuparam estas paragens dando nome á terra e deixando alguns testemunhos, nomeadamente dois pesos de tear em cerâmica encontrados em 1972 numa propriedade circundante à aldeia do Moledo.
Na sua obra, Pinho Leal, afirmava que sobre as ruínas do anterior templo fenício (ou cartaginês), erguido pelos árabes, terá D. Dinis (pai de D. Afonso IV e avô de D. Pedro) construído um Palácio de Caça que ficava situado na margem esquerda do Rio de São Domingos. Posteriormente, encontramos em Chorographia Moderna do Reino de Portugal, da autoria de João Maria Baptista, publicada em 1876, a indicação de que no mapa vem referido como Paço de D. Ignez de Castro.
“Há no nosso País várias povoações com o nome de Moledo, (…) mas o Moledo, que agora nos interessa, é o que serve de sede de uma freguesia do concelho da Lourinhã. É uma aldeia pequena, mas alegre, encostada á margem esquerda do rio de Atouguia, ciosa dos seus pergaminhos de sede de concelho, honra que teve durante seculos XIV a XVI, por merce do Rei D. Pedro I, segundo se supõe.”
M.Machado, 1966
Fala-nos Montalvão Machado no seu livro Amor de Pedro e Inês em terras de Lourinhã de Gaia e de Coimbra, publicado em 1966, da passagem dos protagonistas de um dos mais emblemáticos romances de sempre, por terras de Lourinhã, em especial pelo Moledo. Citando o referido historiador: “Durante os anos de 1346 e 1352 viveram D. Pedro e D. Inês esquecidos, nos esconderijos da Serra de El-Rei e do Moledo” tendo nascido, inclusivamente, três dos seus quatro filhos nesta aldeia.
Aos habitantes do Moledo, não só pelo seu trabalho no palácio, mas sobretudo pela sua lealdade, D. Pedro, concedeu-lhes muitas mercês, figurando entre elas a isenção de tributo de sangue, ficando, apenas, os seus habitantes obrigados a irem à guerra só quando fosse o rei em pessoa. Outros privilégios foram-lhes admitidos em 1378 através de uma Carta Régia que o Rei D. Fernando (filho de D. Pedro), a qual dispensava muitas concessões ao Moledo, nomeadamente a isenção de jugada (contribuições), tomadias, penhoras, etc. Estas benesses caducavam logo que aqueles habitantes deixassem de ali residir. Por estudo desta Carta Régia deduz-se que, já no século XIV, Moledo era sede de Concelho: “Pedindo-nos o dito concelho do Moledo que lhe confirmássemos a dita carta e Nós, visto seu requerimento, e querendo fazer graça e mercê, temos por bem lha confirmarmos assim pela guisa e maneira que se em ela contém e assim mandamos que se cumpra inteiramente.” Fortes razões levam-nos a supor ter sido D. Pedro I quem tal primazia concedeu a esta terra.
A população do Moledo beneficiou ainda de uma segunda Carta Régia concedida por D. Manuel I, datada de 1497. Tratou-se de uma carta muito mais ampla e que foi fundamental para o crescimento do povoado.
Todos os privilégios que Moledo gozava por deferência régia foram revogados em 1820, aquando da revolução que, na história, ficou conhecida por esta data. Montalvão Machado no seu livro Amor de Pedro e Inês em terras de Lourinhã de Gaia e de Coimbra, publicado em 1966, faz duas referências a determinado facto, ou seja a transmissão da propriedade do Palácio ou Paço do Moledo e desta povoação. Sobre o paço do Moledo, Montalvão Machado, refere “que o Paço do Moledo foi alienado pela casa real como veremos adiante em 1373 por doação que Rei D. Fernando fez a seu cunhado D. João Afonso Telo VI, Conde de Barcelos, passando depois por varias mãos, até que no seculo passado pertenceu aos morgados pestanas, tempo em que se descobriram no subsolo dois valiosos braceletes de ouro.”
Na página 62, dessa mesma obra, numa relação de documentos referentes a esta região, escreveu: “em 15 de Abril de 1376 em Santarém D. Fernando concede a D. Afonso Telo VI, Conde de Barcelos irmão da Rainha Dona Leanor Teles, as terras de Moledo e Meijão Frio (Mesão Frio). Foi nessa época que o Moledo foi alienado pela casa Real, continuando esta com a posse da Serra e da Atouguia.”
De referir, mais uma vez, o facto de Moledo ter sido em tempos sede de concelho conforme é mencionado na primeira carta régia, a qual citamos: “a quantos esta Carta virem fazemos saber que por parte do Concelho de Moledo nos foi apresentada uma carta de El-Rey Dom Fernando que tal hé Dom Fernando pela graça de Deus Rey de Portugal e do Algarve”.
São Bartolomeu dos Galegos e Moledo
Foi constituída em 2013, no âmbito de uma reforma administrativa nacional, pela agregação das antigas freguesias de São Bartolomeu dos Galegos e Moledo.
A sede da nova freguesia situa-se em São Bartolomeu dos Galegos, a mais povoada das duas freguesias que estiveram na sua origem.