Cultural
Ruínas do Paço “D. Ignez de Castro”
“…á distancia de uma légua, na povoação do Moledo, havia um outro paço real, onde ele poderia instalar a amada, a única que ele amou. Acrescia ainda a circunstância feliz de estas povoações não ficarem no caminho de Lisboa para Santarém, Leiria ou Coimbra, o que evitaria visitas e coscuvilhices. Assim, estabelecendo ele a sua residência na Serra e morando ela no Moledo, podia D. Pedro, em furtivas visitas nocturnas, encontra-se com a sua amante, sem dar pasto á maledicência pública, ou pelo menos, sem se expor aos olhares zombeteiros da vizinhança.”
M.Machado,1966
Como já foi anteriormente referido, segundo alguns historiadores, terá existido no Moledo um paço real, mandado reerguer sobre as ruinas de um palácio fenício. Esta reconstrução remonta, de acordo com as mesmas fontes, ao reinado de D. Dinis e seu pai, D. Afonso III, avô de D. Pedro. Este edifício terá sido edificado com o intuito de albergar todos os pertences, aquando das caçadas.
Vestígios do Paço D. Ignez de Castro
“E quando teria estado Inês de Castro no Palácio do Moledo? Só poderia ter sido naquele período de 1345 a 1352. Este espaço de tempo corresponde igualmente à permanência do Infante D. Pedro no Paço da Serra…”
“Aqui teriam nascido os infantes D. Afonso, talvez por volta de 1347 e que morreu menino, D. João, provavelmente em 1349 e D. Dinis em 1351. A infanta D. Beatriz teria nascido no ano de 1353, ainda no Canidelo ou já em Coimbra, nos Paços de Santa Clara…”
“Os factos históricos demonstram que, a povoação de Moledo, com a mercê dos privilégios atribuídos pelas cartas régias e pela importância do seu Palácio Real, (hoje desaparecido mas que, no século XIX ainda apresentava ruínas), conferiram a esta localidade algum prestígio, evidenciado na construção da sua Igreja Matriz”.R. Cipriano, 2007
Edificação de Património Cultural
A Arte pública pode ser uma forma de atribuir identidade às cidades.
J. Guimarães
Por forma a estabelecer uma colaboração conjunta, que permita o desenvolvimento de ações comuns, no âmbito do projeto “Moledo com Vida”, a Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, a Câmara Municipal da Lourinhã e a anterior Junta de Freguesia de Moledo, desenvolveram na aldeia de Moledo o projeto “Acontece Escultura”. Este projeto tem contado com a participação dos alunos de mestrado de Escultura Pública que ao longo deste ultimo mandato puderam edificar algumas esculturas de temáticas estreitamente ligadas a esta freguesia e à sua secular história, e que contou com a estreita colaboração entre as entidades e uma população “renascida” que vinha a sofrer, aos já alguns anos uma desmotivação permanente.
Esta dinâmica teve início ainda no ano de 2009 e marcou o começo de um trajeto que procura desta forma educar através da arte e criar a habituação e o gosto pelas artes. A arte foi e é responsável pela prolificação de uma imagem cultural ligada à localidade, que pretende manter esta dinâmica.
A arte é assim um veículo importante na criação de património não só material, mas também imaterial, através da criação de uma imagem coletiva identitária.
A materialização de certos mitos e lendas, tal como de algum património oral, em obras de arte tornam estas imagens coletivas mais reais, mais autênticas e mais vivas na consciência dos fregueses. Dá força a essa imagem coletiva e, portanto, a esse sentimento de pertença a um lugar e por sua vez assiste-se a um aumento da autoestima.
Investiu-se, deste modo, na construção uma identidade cultural comum a todos os habitantes e não num edificado que posteriormente se vem (muitas vezes) a revelar desadequado e descaracterizado que se repete em qualquer outro local culturalmente distinto. Se considerarmos outros exemplos onde não foram respeitadas as características da respetiva zona, notamos que existe uma perda cultural, que ignora por completo uma educação e cultura visual, contribuindo para uma nefasta imagem do espaço coletivo.
O entendimento da cidade pelo observador/ habitante não se limita a absorver os aspetos corpóreos/ arquitetónico, pelo contrário, é de maior relevância a perspetiva emocional, o sentimento de pertença ou não pertença a um determinado lugar. Kevin Linch (1918-1984, arquiteto e teórico americano) defende que a imagem e um bom ambiente urbano dá ao habitante/ visitante um importante sentimento de segurança. Do ponto de vista do habitante, este aspeto é especialmente importante, na medida em que existe uma relação pessoa – cidade, da qual este não se pode dissociar, quando essa relação é harmoniosa, resulta num sentimento de orientação e de pertença, o culminar da sensação do doce lar, em que o lar é ao mesmo tempo familiar, distintivo, em suma, especial.
Por outro lado, seja na cidade natal ou num país distante, deparamo-nos com homenagens e referencia: uma escultura numa praça, um edifício monumental, uma intervenção de cariz político, etc. Figurações que se insinuam como documentos sócio-culturais, na medida em que veiculam mensagens, oriundas de ideologias política ou de representações de cidadania em conforto.
Existe também uma pintura mural que se procura estender e criar uma rota paralela à rota das esculturas. Trata-se de um novo “caminho”, uma nova procura em levar a arte urbana até ao coração do Planalto.
Projeto “Moledo com vida”
O projeto “Moledo com Vida” nasceu no início de 2007, sendo o resultado do trabalho de um grupo de cidadãos do Moledo. Trata-se de um projeto integrado de pensar global para agir local, focalizado:
- Nas pessoas, nas dimensões da melhoria de qualidade de vida, no aumento das competências para o exercício da cidadania ativa, dos níveis de informação/ formação e melhoria de qualidade da educação;
- na proteção e valorização dos recursos patrimoniais e paisagísticos;
- na sustentabilidade ambiental;
- na dinamização da economia local, alavancada na valorização dos recursos endógenos.
Jornadas “Moledo Acontece”
Desde o ano de 2010 está em marcha um outro Projeto que visa o enriquecimento cultural da população residente, “Moledo Acontece”, ou como carinhosamente é apelidado o “acontece”. As Jornadas Moledo Acontece têm como principais objetivos divulgar as potencialidades e trazer uma dinâmica impar à localidade, possuidora de características bastante peculiares. As jornadas deverão contemplar variadas atividades, abrangendo as mais diversas áreas, essencialmente ligadas à cultura.
Esta sinergia de contrastes pretende ser feita de um modo harmonioso e sensato tendo o Planalto sempre como cenário de fundo. Assim, a maioria das atividades deve ter lugar no exterior, seja nos diferentes sítios das antigas Eiras ou nos diversos espaços verdes abandonados, que deverão ser requalificados.
Planalto das Cezaredas
O Planalto das Cezaredas, uma paisagem notável que tem sido uma atração turística para quem procura natureza e sossego.
Este Planalto está integrado num território calcário com cerca de 140 milhões de anos, constituído como que um prolongamento do sistema “Aire/ Montejunto”.
A freguesia não passou despercebida ao período da pré-história como nos atesta os inúmeros vestígios encontrados em muitas grutas espalhadas por esta zona do Planalto das Cesaredas, entre as quais uma necrópole situada na zona dos carrascais.
A Gruta da Feteira foi encontrada aquando da construção de um aviário e devidamente estudada por João Zilhão, autor do livro A Gruta da Feteira, Escavação de salvamento de uma necrópole neolítica, publicado em 1984 pelo Instituto Português do Património Cultural.
Já na década de 1990 foi descoberta outra gruta, igualmente na zona dos Carrascais (Feteira II) da qual a primeira seria a continuação. Esta será escavada, explorada e estudada entre 1993 e 1996, mas desta vez por uma equipa de que são responsáveis Cidália Duarte e Ana Araújo. Essa investigação permitirá aferir que a gruta Feteira II fora utilizada como necrópole durante o período Neolítico, tendo sido reaproveitada durante o Calcolítico.
Período do Neolítico, atestado pelos inúmeros vestígios encontrados nas muitas grutas aqui existentes e que têm sido exploradas desde os finais do século XIX:”
R. Cipriano, s.d.
História
Na continuação do complexo da serra de Aire e da serra de Montejunto, o terreno calcário, datando de cerca de 140 milhões de anos AP, este planalto mereceu a atenção dos primeiros geólogos e pioneiros dos estudos pré-históricos no país a partir de meados do século XIX, por iniciativa da emblemática Comissão dos Serviços Geológicos, na sequência de uma primeira turma formada, a pedido do Governo, pela Real Academias das Ciências, ainda em 1848.
Integraram desde o início este organismo nomes tão importantes como os do engenheiro militar Carlos Ribeiro, do lente de Mineralogia e Geologia da Escola Politécnica Francisco António Pereira da Costa e do alferes de engenharia Joaquim Filipe Nery da Encarnação Delgado.
Este último foi o responsável pelas primeiras incursões de estudo na região, identificando, por exemplo, a Gruta de Cezareda, numa zona particularmente fértil em vestígios arqueológicos no interior de grutas, a julgar pelas de Malgasta e da Lapa Furada.
Apesar do interesse que evidenciaram junto a um pequeno grupo de investigadores, a verdade é que o espólio encontrado não mereceu a atenção necessária à sua posterior classificação, não se encontrando, por conseguinte, na primeira grande lista de imóveis classificados como Monumentos Nacionais, publicada à véspera da implantação republicana em Portugal.
Entretanto, os estudos realizados no terreno por outros investigadores desde o início do século XX, o interesse particular de algumas individualidades pelos períodos mais remotos da ocupação humana no actual território português, designadamente no que se referia aos rituais funerários, conjuntamente a um contexto político mais propício à protecção de alguns dos seus exemplares, nomeadamente a partir do momento em que a legislação portuguesa passou a contemplar o valor arqueológico, logo em 1901, permitiram a classificação de novas grutas identificadas no espaço de tempo que mediou entre a presença de Encarnação Delgado e os finais da década de 1940.
Características
Interpretadas, na altura, como fundamentais para a compreensão do Paleolítico em Portugal, por parte, designadamente, do conhecido prelado e pré-historiador Eugène Jalhay, uma das figuras centrais da Secção de Arqueologia Pré-histórica da Associação dos Arqueólogos Portugueses, o arqueossítio conhecido por Três Grutas é constituído por uma gruta principal situada junto à estrada de S. Bartolomeu (razão pela qual é de igual modo conhecido por Grutas de São Bartolomeu); uma segunda localizada no lado oposto da mesma via e, por fim, uma terceira gruta existente nas imediações de um pequeno povoado conhecido por Reguengo Pequeno.